O Conselho Nacional de Justiça abriu nesta segunda-feira, dia 21, processo
disciplinar contra os desembargadores Osvaldo Soares da Cruz e Rafael Godeiro
Sobrinho, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, por suspeita de fraudar
ordem de pagamento de precatórios em troca de propina. Os dois já respondem a
inquérito criminal no Superior Tribunal de Justiça (STJ) pelas mesmas
irregularidades. No dia 18 de abril, o tribunal afastou os magistrados das
atividades. Nesta segunda, o CNJ tomou a mesma providência.
Se forem condenados pelo STJ, os desembargadores podem ser expulsos da
magistratura definitivamente. Eventual condenação do CNJ causaria, no máximo,
aposentadoria compulsória.
____________________ Desembargarores podem ser expulsos da
magistratura |
O suposto esquema veio à tona em 31 de janeiro, quando a Polícia Federal
deflagrou a Operação Judas. Pela investigação, as fraudes incluíam multiplicação
de precatórios a serem pagos, fabricação de processos administrativos, criação
de contas fraudulentas para crédito e saque de valores de precatórios e
recebimento de valores por pessoas estranhas aos processos.
Uma das denunciadas, Carla Ubarana Leal, ex-chefe de Precatórios do TJ,
aceitou o compromisso de delação premiada e revelou a participação dos
desembargadores nas ilegalidades. Segundo Carla, a ideia das fraudes partiu de
Cruz, que presidiu o TJ em 2007 e 2008. Mas, para o Ministério Público, Carla
era a chefe do esquema. Godeiro sucedeu a ele no biênio seguinte e teria mantido
o esquema. A participação dos desembargadores foi denunciada semana passada pelo
Fantástico, da TV Globo.
A decisão do CNJ foi tomada por 12 votos a um. A relatora, ministra Eliana
Calmon, também corregedora nacional de Justiça, enfatizou a gama de indícios:
"Todas as provas comprovam não só a materialidade dos indícios, mas participação
direta dos desembargadores. Estou apresentando provas, documentos, depoimentos e
laudos indicando pelo menos desvio na condução do ato administrativo. Estou
entregando as peças para não pensarem que foi processo açodado da
Corregedoria".
Ao fim do julgamento ontem, os integrantes do conselho recomendaram aos
tribunais que mantenham um magistrado responsável por pagar os precatórios, para
evitar que essas irregularidades voltem a ocorrer.